Sobre a Igreja de Sant’Ana há relatos de que teria sido construída, por volta de 1619, ainda no período de ocupação jesuítica na região. Com uma localização estratégica, teria contribuído para a defesa do litoral e dificultado ataques indígenas. Embora a povoação de “Meahype” seja uma das sete localidades de ocupação mais antiga, que formavam a vila de Nossa Senhora da Conceição de Guaraparim, aparecendo em documentos históricos e relatos de viajantes estrangeiros, nenhum deles faz menção à Igreja de Sant’Ana. Um inventário descritivo sobre a vila, enviado pelos vereadores da Câmara Municipal de Guarapari, a pedido do governo imperial, em 7 de abril de 1881, não consta, dentre as obras públicas, a existência da igreja.
A capela de Nossa Senhora de Sant’Ana teria sido construída por volta de 1892 no topo de um morro, com o mar a seus pés e uma visão privilegiada da praia de Meaípe. Sua localização estratégica serviu como farol para os pescadores, algo de grande importância dadas as características da vila. Atrás da capela tinha o “lago da sereia”, nome dado em referência à lenda da “Sereia de Meaípe”, uma linda sereia que encantava os pescadores e os transformavam em pedra. Ali já teve também uma fonte de água potável, onde as mulheres lavavam as roupas.
Nesse período, a povoação de Meaípe era formada por rústicas casas de estuque cobertas de palha, com cerca de 80 famílias de pescadores. O povo da vila era muito religioso e seguia o catolicismo com rigor. Após a construção da igreja, chegou à capela a imagem de Sant’Ana, que ainda se encontra no local. A iconografia representa Sant’Ana Mestra, ensinando os mandamentos a sua filha, Virgem Maria Menina. A imagem mede 80cm e na sua base traz a inscrição da loja onde foi adquirida: “A Luneta de Ouro”, que comercializava imagens sacras no Rio de Janeiro. Há também a inscrição com o nome do escultor: Aurélio Monteiro.
A população de Meaípe sempre demostrou muita fé em Deus e devoção a Sant’Ana, uma influência jesuítica que se enraizou na cultura do povoado, assumindo características próprias. Invocada como protetora das famílias, recorria-se a Sant’Ana para a resolução de praticamente todas as necessidades, sobretudo, nos momentos de grande perigo e angústia.
Com o crescimento da população de Meaípe, a pequena capela não era suficiente para atender o número de fiéis que a buscavam. Assim, entre 1988 e 1989, foi construído o “Novo Santuário Senhora Sant’Ana”, ao lado da capela. A construção contou com a ação de benfeitores e pescadores da região, que doavam os frutos do seu trabalho à padroeira.
Desde então, a devoção à Sant’Ana é preservada na localidade. Anualmente, a imagem sai da capela em procissão pelas principais ruas de Meaípe, na tradicional festa de Sant’Ana, que reúne e guarda a essência mais pura do vilarejo de Meaípe, como memória viva e permanente da história e identidade do seu povo. Independente da data de fundação, a Igreja de Sant’Ana é um bem cultural, de natureza arquitetônica, e constitui patrimônio afetivo do município.
Texto: Thiara Bernardo Dutra - Doutoranda em História / UFES
